domingo, dezembro 02, 2007

Uma noite no hospital

Será que alguém que vai acompanhar ‘alguém’ no hospital público, leva mesmo um travesseiro, uma coberta ou até mesmo uma ‘leve’ certeza de quer irá dormir, ou até mesmo, cochilar?
Será?
Diria: Quanta Petulância.
Não, você não irá dormir!
Não, você não irá ao mesmo cochilar.
Não, você não será acompanhante somente daquele seu ‘ente querido’ e sim de todos aqueles ‘entes’ que se tornarão, ali, queridos.
Então se prepare para buscar água, ajudar a virar-se pra lá, pra cá, pra lá de novo, pois assim dói. Mentir como: “A é só uma picadinha não dói” ou então:
Toda essa ‘introdução ‘ para contar, dentre aqueles mais de 10 leitos e macas espalhados pela aquele ‘repouso feminino” havia uma senhorinha, com seus mais de 70 anos, com alguma mal voltado a esclerose (não sei ao certo).
Desde que cheguei já de noite, ouvia falar, sozinha, sobre seguro de vida, o filho, as amigas e a tal da cachorra Lilá. Ficou ali por horas falando sozinha, SE fazendo companhia, tentei puxar uma conversa, mas ela estava ali querendo conversar com ela mesmo.
Havia momentos que ela olhava para mim e dizia: “ O que mais me espanta é esta cachorra ter vindo até aqui comigo, como pode né?” Sorria, fazia uma sinal de positivo e ela voltava a sua conversa com ela mesmo.
20:00h (blá, blá, blá).
- “a cachorrinha aqui comigo”
21:30h (blá, blá, blá).
“ a cachorrinha continua aqui comigo”
20:00h (blá, blá, blá).
- “Cachorrinha danada quer só quer brincar”
Já se passavam das 00:30, quando ela falou mais alto, me chamou e pediu:
“ – Por favor, tira a cachorrinha daqui, ela vai morrer sufocada”
Vendo a aflição da ‘vozinha’ tentei explicar mostrando para ela que o que estava deixado dela era uma sonda. Ela se fez de entendida, e logo já estava pedindo para alguém tirar a cachorrinha dela. Fui lá, expliquei novamente, mas ela estava certa que ali debaixo só tinha a cachorrinha mesmo.
E ela, acreditando naquilo e sofrendo por ser a culpada da provavel morte da cachorra.
Meu coração já apertado, mas eu ali tentando deixar toda a minha falta de senso fora do hospital...
Quando já 4:00 da manhã ela aflita tentando tirar a cachorra dali, levantei-me, joguei todo meu bom senso pela janela e falei:
- "Vó tem uma cachorrinha aí mesmo, vira de lado e não olha, vou tirar ela daí e jogar na rua”
- Isso, filha tira, mas vê se ela já morreu?
Ela virou, cobriu o rosto... eu tirei a cachorra e a acalmei:
- “Ela ta viva e bem, fica tranqüila vou colocá-la na rua...” Fui até a porta e voltei.
- “Pronto vó, agora pode descansar a cachorrinha já foi para casa...”.
- “Que bom, agora vou descansar um pouco, fica com deus”.

E dali 10 minutos ela já estava descansando tranqüila.
E todo o tormento dela só durou, pq nós que estávamos ali, decidimos agir pela razão ou invés da emoção.

Um comentário:

Anônimo disse...

ainda axo que ela é mais normal do que todas nós juntas...